Hoje, nossa pátria nem sempre tão gentil é o Brasil.
Há 131 anos terminava legalmente a escravidão no Brasil. Uma página da história de nosso país era virada, deixada para traz. Algo extremamente positivo e um dos momentos mais importantes de nossa história. Não haveria mais correntes, chicotes, comércio de pessoas, enfim, o Brasil entrava para a lista dos países que buscavam a civilização. Toda mudança tem pontos positivos e negativos, afirmar que o copo está meio cheio ou meio vazio é escolha e direito de cada um.
Até hoje, existem aqueles que afirmam que a abolição foi na verdade um abandono legalizado de cidadãos afro descendentes, que o fim da escravidão foi uma ação para extinguir o povo negro, uma vez que nem todos consideravam ex escravos cidadãos brasileiros. Há pessoas que enfatizam que 14 de maio de 1888 foi um dia terrível para ex escravos, sem perspectiva, sem trabalho e sem identidade.
Mudanças sempre assustaram e ainda assustam, mesmo quando há possibilidade de melhorar. O novo sempre vem, é fato. Não é o mais forte quem sobrevive, mas o que melhor se adapta. Adaptação foi palavra de ordem. Não tinham indenização, benefícios nem plano de carreira. Mas não eram covardes e sabiam que conseguiriam, eram habilidosos.
Cabe a nós a decisão de acreditar em nós mesmos, acreditar que somos capazes de nos organizar e cooperar uns com os outros. Podemos acreditar em nossa capacidade criativa e produtiva ou sentar à beira do caminho esperando que alguém nos estenda a mão.
Não foi fácil, sem dúvida, mas muitos de nossos antepassados sobreviveram. Mais que isso, se desenvolveram, se envolveram e resolveram questões importantes do Brasil. o cidadão negro participou e participa ativamente da história de nosso país, apesar dos pesares.
África foi o início de nosso povo, nossa mãe tão distante e tão presente. Hoje, nossa pátria nem sempre tão gentil é o Brasil. Aqui estão nossas famílias, nosso emprego ou subemprego, nossas chances e desafios. Aqui encontramos ou criamos oportunidades, somos incluídos ou conquistamos nosso espaços. Nossa vida é aqui. Nossos antepassados conquistaram a liberdade que desfrutamos e consolidamos desenvolvendo nosso trabalho, realizando nossas tarefas escolares, cuidando de nossos familiares ou realizando nossos sonhos.
Nosso direito à moradia, escola, trabalho, saúde e qualidade de vida são confirmados a cada dia. O livro que estudamos, a roupa que vestimos, o currículo que elaboramos demonstram a maneira como queremos ser tratados. Quando nós, cidadãos negros, participamos de processo seletivo, capacitação ou alguma ação de melhoria, consolidamos o direito à liberdade que tanto custou aos nossos antepassados.
A estrada é longa, o caminho não é deserto uma vez que somos metade da população brasileira. Somos tão fortes quanto quem quer que seja.
13 de maio de 1888, Abolição da Escravidão, data que precisa ser lembrada em respeito a todos aqueles que choraram, sofreram, fugiram e lutaram para que nós, cidadãos negros pudéssemos sonhar, participar, disputar, concorrer e vencer como eles fizeram e fariam novamente, se pudessem.
Em busca da liberdade, nossos antepassados fariam tudo de novo, mil vezes.
Valeu, antepassados.
Agora é a nossa vez.